domingo, 11 de outubro de 2009

Feminina


Eu gosto de ser mulher
Mas é um gostar melancólico
Adoro seduzir
Com qualquer ato simbólico

Gosto de ser seduzida
Mas só pra achar a saída
Gosto do olhar profano
Profundo, matreiro e cigano

Detesto ser rejeitada
Quando provoco a rejeição
Me testo, e não acerto
Quando penso que no jogo da sedução
Vale a lei do menor esforço

Ser mulher só não basta
Tem que saber preencher este não-lugar
Se reinventar

Aceitar que não ter
É a essência do feminino

Sentir a liberdade de ser etérea
De caber em qualquer destino

Aprender a ser leve
A voar
Já que não há o que carregar

Aceitar que ser mulher
É permitir a ultrapassagem
Sabendo que não adianta
Correr do próprio destino

É produzir o que não se tem
Entre sussurros
Ou quebrando os muros

É saber as delícias
De não ter que decidir sempre

É sentir muita culpa
De ter comido a maçã
Mesmo que não fosse a proibida

É querer tudo
E tudo não ser o bastante

É não querer
Querendo

É trocar até documento
Quando se assume um amor

É achar que fez tudo errado
Se ele não telefonou

É ver tudo negro
E chorar no espelho
Antes de vir o vermelho
E transformar tudo em rosa

A essência do feminino
É transmutar a falta

É transformar o não ter em poder
De dar
O corpo
A alma
O leite
A vida

É sentir que ser amada
É ter o mundo a seus pés

2 comentários:

  1. Izabella
    de há muito estou querendo comentar.Está tão tocante, sensibilidade em cada palavra, no todo, então....
    Continue tocando nossas vidas, i.é., dos privilegiados que acessam seu blog.
    Irene

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  2. Izabella,
    continue tocando nossas almas, privilegiadas, com o vigor e a delicadeza das palavras que brotam de seus escritos.
    Irene

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